sexta-feira, 17 de setembro de 2010

NOSTALGIA E DEPRESSÃO


Joanna de Ângelis/Divaldo Pereira Franco
As síndromes de infelicidade cultivada tornam-se estados patológicos
mais profundos de nostalgia, que induzem à depressão.
O ser humano tem necessidade de auto-expressão, e isso somente é
possível quando se sente livre.
Vitimado pela insegurança e pelo arrependimento, torna-se joguete da
nostalgia e da depressão, perdendo a liberdade de movimentos, de ação
e de aspiração, face ao estado sombrio em que se homizia.
A nostalgia reflete evocações inconscientes, que parecem haver sido
ricas de momentos felizes, que não mais se experimentam. Pode proceder
de existências transatas do Espírito, que ora as recapitula nos
recônditos
profundos do ser. lamentando, sem dar-se conta, não mais as fruir; ou
de ocorrências da atual.
Toda perda de bens e de dádivas de prazer, de júbilos, que já não
retornam, produzem estados nostálgicos. Não obstante, essa
apresentação inicial é saudável, porque expressa equilíbrio, oscilar
das emoções dentro de
parâmetros perfeitamente naturais. Quando porém, se incorpora ao dia-a-
dia, gerando tristeza e pessimismo, torna-se distúrbio que se agrava
na razão direta em que reincide no comportamento emocional.
A depressão é sempre uma forma patológica do estado nostálgico.
Esse deperecimento emocional, fez-se também corporal, já que se
entrelaçam os fenômenos físicos e psicológicos.
A depressão é acompanhada, quase sempre, da perda da fé em si mesmo,
nas demais pessoas e em Deus... Os postulados religiosos não conseguem
permanecer gerando equilíbrio, porque se esfacelam ante as reações
aflitivas do organismo físico. Não se acreditar capaz de reagir ao
estado crepuscular, caracteriza a gravidade do transtorno emocional.
Tenha-se em mente um instrumento qualquer. Quando harmonizado, com as
peças ajustadas, produz, sendo utilizado com precisão na função que
lhe diz respeito. Quando apresenta qualquer irregularidade mecânica,
perde a qualidade operacional. Se a deficiência é grave, apresentando-
se em alguma peça relevante, para nada mais serve.
Do mesmo modo, a depressão tem a sua repercussão orgânica ou vice-
versa. Um equipamento desorganizado não pode produzir como seria de
desejar. Assim, o corpo em desajuste leva a estados emocionais
irregulares, tanto quanto esses produzem sensações e enarmonias
perturbadoras na conduta psicológica.
No seu início, a depressão se apresenta como desinteresse pelas coisas
e pessoas que antes tinham sentido existencial, atividades que
estimulavam à luta, realizações que eram motivadoras para o sentido da
vida.
À medida que se agrava, a alienação faz que o paciente se encontre em
um lugar onde não está a sua realidade. Poderá deter-se em qualquer
situação sem que participe da ocorrência, olhar distante e a mente sem
ação, fixada na própria compaixão, na descrença da recuperação da
saúde. Normalmente, porém, a grande maioria de depressivos pode
conservar a rotina da vida, embora sob expressivo esforço, acreditando-
se incapaz de resistir à situação vexatória, desagradável, por muito
tempo.
Num estado saudável, o indivíduo sente-se bem, experimentando também
dor, tristeza, nostalgia, ansiedade, já que esse oscilar da
normalidade é característica dela mesma. Todavia, quando tais
ocorrências produzem
infelicidade, apresentando-se como verdadeiras desgraças, eis que a
depressão se está fixando, tomando corpo lentamente, em forma de
reação ao mundo e a todos os seus elementos.
A doença emocional, desse modo, apresenta-se em ambos os níveis da
personalidade humana: corpo e mente.
O som provém do instrumento. O que ao segundo afeta, reflete-se no
primeiro, na sua qualidade de exteriorização.
Idéias demoradamente recalcadas, que se negam a externar-se -
tristezas, incertezas, medos, ciúmes, ansiedades - contribuem para
estados nostálgicos e depressões, que somente podem ser resolvidos, à
medida que sejam liberados, deixando a área psicológica em que se
refugiam e libertando-a da carga emocional perturbadora.
Toda castração, toda repressão produz efeitos devastadores no
comportamento emocional, dando campo à instalação de desordens da
personalidade, dentre as quais se destaca a depressão.
É imprescindível, portanto, que o paciente entre em contato com o seu
conflito, que o libere, desse modo superando o estado depressivo.
Noutras vezes, a perda dos sentimentos, a fuga para uma aparência
indiferente diante das desgraças próprias ou alheias, um falso
estoicismo contribuem para que o fechar-se em si mesmo, se transforme
em um
permanente estado de depressão, por negar-se a amar, embora reclamando
da falta de amor dos outros.
Diante de alguém que realmente se interesse pelo seu problema, o
paciente pode experimentar uma explosão de lágrimas, todavia, se não
estiver interessado profundamente em desembaraçar-se da couraça
retentiva,
fechando-se outra vez para prosseguir na atitude estóica em que se
apraz, negando o mundo e as ocorrências desagradáveis, permanecerá
ilhado no transtorno depressivo.
Nem sempre a depressão se expressará de forma autodestrutiva, mas com
estado de coração pesado ou preso, disfarçando o esforço que se faz
para a rotina cotidiana, ante as correntes que prostram no leito e ali
retêm.
Para que se logre prosseguir, é comum ao paciente a adoção de uma
atitude de rigidez, de determinação e desinteresse pela sua vida
interna, afivelando uma máscara ao rosto, que se apresenta patibular,
e podem ser
percebidas no corpo essas decisões em forma de rigidez, falta de
movimentos harmônicos...
Ainda podemos relacionar como psicogênese de alguns estados
depressivos com impulsos suicidas, a conclusão a que o indivíduo
chega, considerando-se um fracasso na sua condição, masculina ou
feminina, determinando-se por não continuar a existência. A situação
se torna mais grave, quando se acerca de
uma idade especial, 35 ou 40 anos, um pouco mais, um pouco menos, e
lhe parece que não conseguiu o que anelava, não se havendo realizado
em tal ou qual área, embora noutras se encontre muito bem. Essa
reflexão autopunitiva dá gênese a estado depressivo com indução ao
suicídio.
Esse sentimento de fracasso, de impossibilidade de êxito pode, também,
originar-se em alguma agressão ou rejeição na infância, por parte do
pai ou da mãe, criando uma negação pelo corpo ou por si mesmo, e,
quando de causa sexual, perturbando completamente o amadurecimento e a
expressão da libido.
Nesse capítulo, anotamos a forte incidência de fenômenos obsessivos,
que podem desencadear o processo depressivo, abrindo espaço para o
suicídio, ou se fixando, a partir do transtorno psicótico,
direcionando o paciente para a etapa trágica da autodestruição.
Seja, porém, qual for a gênese desses distúrbios, é de relevante
importância para o enfermo considerar que não é doente, mas que se
encontra em fase de doença, trabalhando-se sem autocomiseração, nem
autopunição para reencontrar os objetivos da existência. Sem o esforço
pessoal, mui dificilmente será encontrada uma fórmula ideal para o
reequilíbrio, mesmo que sob a terapia de neurolépticos.
O encontro com a consciência, através de avaliação das possibilidades
que se desenham para o ser, no seu processo evolutivo, tem valor
primacial, porque liberta-o da fixação da idéia depressiva, da
autocompaixão,
facultando campo para a renovação mental e a ação construtora.
Sem dúvida, uma bem orientada disciplina de movimentos corporais,
revitalizando os anéis e proporcionando estímulos físicos, contribui
de forma valiosa para a libertação dos miasmas que intoxicam os
centros de
força.
Naturalmente, quando o processo se instala - nostalgia que conduz à
depressão - a terapia bioenergética (Reich, como também a espírita), a
logoterapia (Viktor Frankl), ou conforme se apresentem as síndromes, o
concurso do psicoterapeuta especializado, bem como de um grupo de
ajuda, se fazem indispensáveis.
A eleição do recurso terapêutico deve ser feita pelo paciente, se
dispuser da necessária lucidez para tanto, ou a dos familiares, com
melhor juízo, a fim de evitar danos compreensíveis, os quais,
ocorrendo, geram
mais complexidades e dificuldades de recuperação.
Seja, no entanto, qual for a problemática nessa área, a criação de uma
psicosfera saudável em torno do paciente, a mudança de fatores
psicossociais no lar e mesmo no ambiente de trabalho constituem
valiosos
recursos para a reconquista da saúde mental e emocional.
O homem é a medida dos seus esforços e lutas interiores para o
autocrescimento, para a aquisição das paisagens emocionais.
( trecho extraído do livro " AMOR IMBATÍVEL AMOR")

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